Para citar esse texto:
EL CHEIKH, B. DIA DO NAKBA. Debates Pós Coloniais e Decoloniais, 15 mai 2020. Disponível em: https://decoloniais.com/dia-do-nakba/ Acesso em: *inserir data*
Durante a Primeira Guerra Mundial, Inglaterra e França repartiram o Oriente Médio em áreas de influência de seus exércitos através do acordo Sykes-Picot e, após a queda do Império Otomano, botaram em prática seu projeto imperialista na região. Tal acordo permitiu que, em 1917, antes mesmo de iniciar seu mandato, os ingleses assinassem a Declaração de Balfour, garantindo aos sionistas a criação de um “Estado Nacional Judeu” na Palestina e culminando no aumento da imigração de judeus europeus. O Mandato Britânico na Palestina, iniciado em 1920, terminou em 1947, quando o governo inglês alegou ser incapaz de resolver o crescente conflito entre judeus e palestinos. Concomitante com o fim do Mandato Britânico, a recém-criada ONU (Organização das Nações Unidas) sugeriu a Resolução 181, que consistia na divisão da Palestina em dois Estados, um árabe e um judeu. Dessa forma, os judeus, representantes de um terço da população, ficaram com 56% do território enquanto os palestinos – dois terços da população do país – receberam 44% da terra. A proposta foi rejeitada pelos árabes, que consideravam a divisão injusta e inadequada. Apesar disso, líderes sionistas seguiram com sua declaração de independência e, com o fim efetivo do controle inglês na região no dia 14 de maio, a criação do Estado de Israel foi consolidada em 15 de maio de 1948.
A proposta da ONU acelerou o processo de remoção dos palestinos, e antes mesmo do 15 de maio, milícias sionistas já atuavam na região realizando massacres e destruições de vilas palestinas. Um dos massacres mais conhecidos ocorreu na vila de Deir Yassin, quando mais de 100 palestinos foram brutalmente assassinados por sionistas. No total, as expulsões violentas culminaram na morte de cerca de 13 mil palestinos entre 1947 e 1949.
A criação do Estado de Israel é marcada pela limpeza étnica na Palestina e responsável por uma das
maiores populações de refugiados no mundo. As famílias expulsas nesse período ainda são impedidas de entrar na Palestina, e muitas delas guardam as chaves originais de suas casas, num gesto de resistência e esperança do retorno. O Nakba é o resultado do processo político que o precede, mas essa “catástrofe” não terminou em 1949 e segue sendo aplicada pelo exército de Israel no que restou do território palestino. Até hoje a ocupação colonial israelense atua de forma violenta na Cisjordânia, destruindo prédios de palestinos para expandir os assentamentos ilegais para a população israelense. Na Faixa de Gaza, mais de um milhão de palestinos são mantidos em uma espécie de “prisão a céu aberto” pelo cerco imposto por Israel há mais de dez anos.Todo dia 15 de maio, milhões de palestinos ao redor do mundo relembram a Catástrofe e reafirmam seu desejo (e direito) de retorno, bem como o fim da violência da ocupação colonial israelense. O Nakba é uma data de extrema importância não só para a causa palestina, mas também para a luta anticolonial e anti-imperialista internacional.
Para saber mais sobre os processos que levaram ao Nakba e o projeto contínuo de limpeza étnica na Palestina, confira:
SAID, Edward. A questão da Palestina. São Paulo: Editora UNESP, 2012.
PAPPÉ, Ilan. A limpeza étnica da Palestina. São Paulo: Editora Sundermann, 2016.