Pular para o conteúdo
Início » A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA ARGELINA

A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA ARGELINA

A luta anti-colonial argelina transcendeu as fronteiras de seu país, inspirando revoluções que viriam a seguir no continente africano, assim como grandes pensadores do pós-colonialismo. Crucial para a compreensão acerca da política africana após a metade do século XX, a Revolução Argelina ocorre entre os anos 1954 e 1962, resultando na conquista da independência da Argélia depois de 132 anos de dominação colonial francesa.

A dominação territorial da França sob o país que hoje conhecemos como Argélia fabricou fronteiras e conferiu a esta uma condição diferenciada das demais colônias. A Argélia seria tratada como um prolongamento da metrópole em terras africanas, que, sob a visão colonialista, deveria transformar-se para replicar as características francesas, iniciando um longo período de epistemicídio local.

O país possuía sua maioria populacional muçulmana, mas, a discriminação religiosa viria a ser uma importante caracteristica do governo na colônia. Foi determinado por lei que religiosos muçulmanos não pudessem se reunir publicamente, nem ao menos sair de suas residências sem autorização, também, o francês foi determinado como a nova língua oficial do país, proibindo a disseminação do aprendizado na língua árabe, agora estabelecida como estrangeira. Para a atender a condição de cidadão sob o governo francês, era imprescindível a renúncia da fé islâmica.

Em meados da década de 1930, o nacionalismo argelino começa a aflorar nas ideias de jovens estudantes, os quais completaram a sua formação na metrópole, levando à colônia reivindicações de melhorias sociais. Durante a Segunda Guerra Mundial, com as intermináveis contestações do povo argelino ao domínio francês, o país havia prometido conceder a independência exigida, entretanto, em 1945 a França recusou-se a cumprir sua parte do acordo, o que viria a provocar ainda maiores protestos nas principais cidades argelinas.

As manifestações populares começaram pacificamente, porém encontraram forte repressão francesa. No ano seguinte, a Constituição Francesa permitia, finalmente, a representação de colonos no Parlamento, mas, ao contrário do que se esperava, nas eleições que se seguiram, nos anos de 1948 e 1951, candidatos nacionalistas das colônias foram impedidos de tomar posse. Desse modo, insurgiram novos protestos dentro da Argélia, combatidos, novamente, de modo violento pela forças francesas presentes, o que viria a fazer com que a luta pela independência se tornasse uma violenta guerrilha que perdurariam por anos.

A guerra se desdobrou em um complexo conflito caracterizado pelo uso de tortura e violência generalizada, entre dois grupos antagônicos principais: a Front de Libération Nationale (FLN), partido político composto por nacionalistas argelinos que possuía uma ala armada, o chamado Armée de Libération Nationale, em oposição às Forças Armadas francesas. A FNL buscava pressionar a comunidade internacional, a fim de chamar atenção para os acontecimentos no país, também objetivando alcançar uma mobilidade de solidariedade árabe além de suas próprias fronteiras. O movimento estimulava a luta anti-imperialista revolucionária em outros países, para um alinhamento à causa nacionalista argelina.

A guerra não parecia encontrar seu fim, ao passo que o mundo acompanhava as suas repercussões. A Organização das Nações Unidas reconhece o direito de independência da Argélia pela Resolução n° 1573 (XV), da Assembléia Geral, em dezembro de 1960 e, posteriormente viria a discutir e produzir uma nova resolução, Resolução 1924 (XVI), em dezembro de 1961 reiterando tal posição, levando o presidente francês Charles de Gaulle a iniciar as negociações com a FNL. Em 1962, após a condução de um referendo no território argelino, foi assinado o Acordo de Évian, estabelecendo a independência da Argélia. Estima-se que ao menos um terço da população argelina teria sido assassinada desde a invasão do território em 1830.

Frantz Fanon, um dos mais influentes pensadores do século XX sobre a temática da descolonização, se viu inspirado diante do cenário político o qual vivenciou na Argélia. O martinicano foi enviado para o país para servir o exército francês como médico psiquiatra durante a Segunda Guerra Mundial e, durante a sua estadia, testemunhou a luta de libertação argelina, se aliando ao nacionalismo argelino. Fanon viria a dedicar sua vida acadêmica a analisar as consequências da colonização, tanto para o colonizador assim como para o colonizado, incorporando a perspectiva psicológica de seu processo.

A Revolução Argelina coincide com a vigência das perspectivas do pan-africanismo e do pan-arabismo, aproximando as duas vertentes e, demonstrando seu encontro. O país africano de maioria populacional muçulmana foi crucial para o início dos debates acerca da união do um continente dividido pelas mazelas colonialistas.

Luisa Alves

Luísa Paes

Graduanda em Ciência Política pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro(UNIRIO).  Assistente de Mídia e Criatividade do Debates Pós-Colonais e Decolonais.

Currículo Lattes

CONTATO@DEBATESPCD.COM

 

 ©Copyright Debates Pós-Coloniais e Decoloniais 2020. Todos os direitos reservados.
Loading...